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Vanessa Sola

Pais, permitam ser odiados por seus filhos

Atualmente é comum os pais quererem ser amigos dos seus filhos. Mas costumo dizer que, como seres relacionais que somos, temos que observar a importância que os diferentes tipos e qualidade de relações tem para o nosso desenvolvimento pessoal.


Vejamos...


A relação entre pais e filhos não carrega a mesma função das relações de amizade. Quando falamos de relação parental estamos nos referindo a função através da qual se é transmitido os elementos básicos para a nossa estrutura e formação como sujeitos. Nesse sentido, enquanto a relação entre amigos pode ser considerada uma relação circular, entre iguais, constituída por afinidades, a relação “pais e filhos” é uma relação triangular, sendo os genitores a base do triângulo e que deve propiciar um desenvolvimento psíquico e emocional sadio e equilibrado para sua cria. Não se pode misturar essas duas qualidades de relação sem acarretar sérias consequências para o desenvolvimento das crianças e jovens.


Mesmo diante das diferentes organizações conjugais e familiares que hoje contamos, não muda o fato de que o papel do pai e da mãe (ou dos cuidadores) na vida de um filho é insubstituível e constitui uma função simbólica inconfundível e imprescindível para o desenvolvimento humano. E, indubitavelmente, é importante que os pais ou cuidadores garantam aos filhos a posição de terceiros na relação parental.


Por ser a base do desenvolvimento, a função parental deve ser garantida pelo casal conjugal e mesmo na falta de um dos genitores ou cuidadores, importa que o genitor presente se refira constantemente ao genitor ausente de maneira a sustentar o lugar do filho como terceiro na relação: “sua mãe e eu decidimos”, “seu pai e eu achamos”, etc. A comunicação dos cuidadores com seus filhos deve se dar de maneira clara e firme a fim de sustentar os atos de condução dos filhos através de discursos e atitudes comuns a ambos os pais – ou seja, os pais precisam “falar a mesma língua” no que se refere a condução da formação e educação dos seus filhos.


Quando os filhos sentem que o pai e a mãe falam a mesma linguagem e decidem juntos, sentem-se seguros, tranquilizam-se, aquietam-se em seus impulsos internos. A firmeza do pai e da mãe ampara a cria. Pais sem firmeza, frouxos, sem autoridade, que desejam apenas ser alvo do amor dos seus filhos, negligenciam sua importante função como apoio para constituição psíquica deles.


Pais que temem ser “odiados” caso assumam posturas firmes e reguladoras, colocam seus filhos na angustia e na incerteza de seus ímpetos agressivos e amorosos internos. Devido a essa atmosfera de impedimento de poder dirigir aos pais seus ímpetos hostis os filhos se tornam hiperativos, inquietos, não sabem o que fazer com seus impulsos afetivos e emocionais, acabam se tornando agressivos a esmos, ríspidos, violentos, “dão pontapés em tudo e em todos”. Numa palavra, tornam-se sujeitos envoltos em enorme sofrimento, pois, desesperados, não sabem o que fazer com suas emoções de cunho agressivo, se transformando em fortes candidatos aos vícios e ao consumo excessivo de álcool e drogas, por exemplo.


A falta dos pais como “containers e metabolizadores” dos impulsos afetivos de seus filhos é um desastre para o desenvolvimento psíquico do indivíduo, sobretudo de pais fisicamente presentes!


Não há como os filhos se organizarem psiquicamente numa relação parental desordenada, na qual os pais, por medo de perder o amor de seus filhos, privilegiam a amizade e camaradagem junto a eles e abstêm-se de suas funções de educadores emocionais e normatizadores sociais.


Em decorrência desta configuração parental disfuncional, observamos com frequência, os filhos absorverem e se tornarem sintoma dos problemas dos pais.


Vanessa Sola


Psicóloga Clínica

CRP 06/77508

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